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glória diógenes

o cavalo da  noite

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Aprendeu a ler com facilidade. Queria escrever historinhas. Logo que desenhou as primeiras letras, ganhou um diário. Ele tinha um pequeno cadeado e uma chave sempre bem escondida. Ao longo dos anos, eles ganharam páginas e se multiplicaram nas prateleiras. Pensa que foi assim que se fez escritora. Era capaz de deixar de olhar belas paisagens, de se distrair em meio às conversas de amigas, para devorar os livros que sempre lhe acompanharam, para escrever em silêncio. Ao lhe perguntarem o que seria quando crescesse respondia, sem pestanejar, escritora. Já mocinha, os arbítrios da ditatura militar, as cancelas da livre fala, o cerceamento das liberdades, lhe conduziram para outra paisagem de escrita: a vida social. Os diários, na forma de contos, continuaram preenchendo cadernos, páginas datilografadas, arquivos digitais. Criou um blog “Linhas ao vento” – fragmentos guardados na gaveta.  Era essa quase uma atividade secreta. Na sociologia, foi por vezes “acusada” de fazer literatura e não ciência. A literatura resvalava, trincava palavras feitas para explicar. A pandemia deixou nítida a decisão. A vida pede passagem. Organizou parte de um material escrito e, em abril de 2024, concorreu a um edital. Foi então publicado o “Avarias” pela Urutau. Em seguida, escreveu o livro que brevemente será lançado, também pela Urutau, “Sangue no Olho D’água”. Nesse intervalo escreveu, na ocasião da morte de um irmão, “Fio que não parte – contigo vivi Paulo Diógenes”, pela editora Substância. Já havia publicado alguns contos em antologias. Ao contrário do que se costuma dizer, escrever precisa de si. Existe no que inventa. 

© 2024 por A Voz da Palavra.

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