
a voz da palavra
Inês Cardoso nasceu em Barbalha e passou a primeira infância no sopé da Serra do Araripe, no sitio Massapê, Cariri cearense. Aos nove anos, trouxe do interior para a Capital o sotaque e as vivas experiências com a terra, o mel de engenho, os guisados de barro e as gentes. Essas vivências adensaram-se com muitas outras camadas, em outras geografias diversas, quando vestiu pele de estrangeira. Fortaleza é, no entanto, o lugar que escolheu para fincar raízes. Aqui nasceram sua filha e seu filho e por isso levam em seus nomes o Mar. Eles são, como ela diz, seu projeto mais bem acabado, ou, o melhor presente que a vida lhe deu. Cursou Letras e seguiu uma carreira acadêmica que a levou à docência na UFC e à participação ativa em projetos culturais da cidade, quase todos ligados à literatura. Na Universidade, e fora dela, sentiu-se especialmente atraída pelos Estudos Culturais e pela Literatura Comparada, talvez porque se identificou sempre com a condição de ser fronteira: desde o ventre, onde floresceram os frutos do amor bilíngue, à sala de aula, que representa um umbral entre mundos, lugar onde a sua se mistura a outra língua e a outras culturas. Sua dissertação de mestrado já versava sobre diálogos possíveis, premiada em concurso nacional, foi publicada com o título: Cicatrizes submersas d´os sertões: Descartes Gadelha e Euclides da Cunha em correspondência, pela Xerox do Brasil e Editora Livro Aberto, no ano 2000. Logo passou a integrar, com amigas escritoras, o coletivo Quantas de Nós, cujo livro homônomo, uma coletânea de contos, ganhou o prêmio Moreira Campos, em 2010. O grupo voltou a publicar, em 2017, sob o título Rastros de mentiras e segredos, dedicando-se, mais uma vez, ao resgate de experiências e de uma fala femininas. Tem artigos publicados em jornais e ensaios e artigos acadêmicos publicados em periódicos. Em sua tese de doutorado e em seus estudos de pós-doutorado, confronta novamente os diálogos entre tempos e línguas diversas, neles aproxima o escritor Ariano Suassuna à novela picaresca espanhola e aos livros de cavalarias, para finalmente, reuni-lo, em estudo comparado, ao próprio Miguel de Cervantes, reconhecido ascendente literário do autor paraibano. Considera vertiginosa a arte de escrever, de tramar e tecer com linhas diversas, aproximar mundos apartados ou criar novos, razão pela qual sente enorme respeito pela escritura e a pratica, por prudência, menos do que gostaria de fazê-lo.